12 de mai. de 2019

Eu sou ...



Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.

Adélia Prado

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